29/04/2009

Roadburn - Dia 3

Último dia. Participei numa batalha de bolas de neve, que o Arjen, o nosso anfitrião, tinha guardadas no frigorífico desde Janeiro. Balas de canhão é mais o termo. Melhor não me alongar muito mais.



10 mil anos luz

Normalmente, não gosto de ler o que escrevi para trás. Passo os olhos pelas folhas do bloco deste Roadburn, e não... Não foi nada disto. Ou já não sei quem eu era antes de ir. Lembro-me de imaginar, durante o concerto de Grails, que daqui a 30 anos seríamos hippies a falar daquilo como se tivessemos visto Jefferson Airplane. Os Earth ainda me desconcertaram durante três temas, mas tinha de correr para ver o Eugene Robinson. O Eugene sorri muito, não foi de cuecas e explicou-nos o porquê de gostar muito de andar à pancada. Saí na parte em que ele andava a fazer "cobranças difíceis a um gajo", mas havia outro gajo que devia dinheiro a esse gajo, e o gajo pediu-lhe se ele não podia ir lá também.

Young Gods. Queria mesmo vê-los ali, mas com mais bateria e menos gajo novo a fazer festinhas ao baixo. Fui fumar uma ganza, a ver se aquilo melhorava. Passei pelos Om, mas eu queria mesmo era ver Zeni Geva. O baterista que só guincha no fim das músicas diz algo como "môrô vôissô". Eu grito: "Turn it up!". O KK Null sorri e aprova. Claro! Tudo mais alto, se possível. Nunca pensei que conseguisse ficar a dois passos de tamanha chinfrineira. Top 3 dos meus concertos, se bem que ainda não sei quais são os outros dois.

Mas tínhamos de fugir. Os anfitriões preparavam a entrada. Na porta do palco principal, um cartaz a proibir o uso do flash e a advertir para o volume de som. "A sun that never sets", e os Neurosis invadem o palco. Não esperava que ensanduichassem tanto o álbum novo num evento como o Roadburn, mas isso não pareceu incomodar mais ninguém. No fim, eles estavam mesmo ali. "Through silver in blood" para acabar e uma multidão que se agitava, ou cambaleava, ou sorria antes do último feedback.

O Roadburn é uma prova de resistência, e por isso este bloco é mais curto do que devia. O Roadburn e a sua experiência ultrapassam a música, e por isso é preciso falar de tudo. Estar em todo o lado ao mesmo tempo. Esgotado desta ubiquidade, deito-me agora no sofá de casa e ponho a compilação da Neurot. Olho para o programa, já espetado com um punaise, e penso nos amigos que fiz, e em que concertos terão eles delirado. Para o ano também calha em Abril. A ver se volto outra vez de lá com menos 10 anos.

28/04/2009

Roadburn - Dia 2

Agora que penso nisso, foi um milagre termos regressado sempre a casa com aqueles suecos, sem arranjar desacatos. Aqui vai a história do segundo dia, em jeito de diálogo, como sugerido pelo amigo Amebix.


"Are you a taxi? I wanna ride you!"
(o sueco mais alto, para um homem que passeava um carrinho de cabides às 3 da manhã)

- Viste os Böhren?
- Passei de raspão. Estava nos Negura Bunget. Era folclore romeno a mais para mim.
- E eu ia adormecendo. Vamos lá é despachar-nos, que o Steve von Till deve estar a começar.

Pausa para respirar. Rumo à Green Room.

- Foda-se, o Steve von Till a enrolar cabos! Nunca pensei ver tal coisa.
- Cala-te, que...
"Hi, I'm Steve von Till, and this is my spaceship."

DJAAAAN

- O que é que achaste?
- Aquela segunda entrada de distorção deu cabo de mim. Até saltei para trás.
- Foi do caralho.
- Ya, é isso que vamos escrever. "Foi do caralho".

- Vou para Mono.
- Vão andando. Não saio daqui sem ver pelo menos meia hora de Atomic Bitchwax.
Já não dá para entrar.
"So come on, my love..."
Não que não dá! Furar até à primeira fila. Nem acredito que o guitarrista dos Core está à minha frente.
"Shitkicker!"
"We did that one already."
Mas não tinham. Não há tempo, ainda quero ver o fim de Mono. Mesmo na hora para as duas últimas (mais de vinte minutos)! Parece que o pós-rock no Japão ainda agora começou. Que lavagem.

- Ainda aguentamos Cathedral?
- 'Bora lá.
- Caralho, já não tenho pachorra pró Lee Dorian.
- Mas está com boa cara.
"This one's from Cosmic Funeral."
O novo Ozzy.
- Esta ganza tem dois terços de tabaco e dois terços de...
- Acho que apanhei o terço que estava a mais.
St. Vitus. O cheiro a erva triplica. Este baterista é uma merda. O guitarrista até podia estar a tocar as pombinhas da catrina, desde que tivesse overdrive e efeitos a fundo. Mas que rock do caralho.

- Vamos a Scott Kelly.
- Ok, ainda posso curtir o princípio, mas à meia noite ninguém me tira de Colour Haze.
- Quam são esses gajos?
- Foda-se!
Mr. Scott Kelly.
"What are you shushing about? I'll do the shushing around here." É bom, mas não é para mim.
Pausa para cigarro. Palco principal mais arejado, a seguir aos horrores sacrificiais de St. Vitus. Muita gente sentada nos degraus. Escolho um lugar com espaço e espero pelo primeiro acorde.
A visibilidade é perfeita, o som espalha-se pelos quatro cantos do 013, que cada vez mais me parece uma nave de igreja futurista. As costas descansam, enquanto desfruto de uma das melhores bandas de sempre. Devia ser proibido juntar três músicos assim tão bons.
O tumulto abranda. Os homens das cordas sentam-se em almofadas e chamam um convidado com cítara. Desço com eles e aproximo-me do palco. Sinto como se a banda crescesse à minha frente, agigantando-se com a calmia das notas. Sim, que paneleirice da minha parte.

Mais um cigarro. É muita fruta.
- O que é que vocês estão aqui a fazer?
- A descansar um bocadinho.
- Foda-se, estão a perder o melhor concerto de sempre.
- RAISHNISHBURGEKROMBELER!
- Isso, caralho, diz aos gajos.
- É Colour Haze?
- 'Bora, que ainda apanhas meia hora.
Lá dentro, nada pára. Ouve esta, é um hino.

Roadburn - Dia 1

Eis o relato do primeiro dia de concertos, com duas bolachinhas à mistura, em jeito atrasado de caça aos ovos da Páscoa..
O amigo Pedro Roque desta vez não tirou (muitas) fotografias, mas prometeu contribuir com alguns vídeos. A actualizar brevemente.


Barões, Duques e cães a um osso.

Acordados por um grupo de assaltantes que fugia à polícia, rapidamente nos recompusemos e rumámos a Tilburg. O meu cu seria demasiado pobre para ser roubado e o comboio não espera por ninguém. Do outro lado da linha, para lá da névoa baixa que cobre o prado holandês, o nosso surfista de sofá aguarda-nos com um pelotão de suecos, humor mordaz, o domínio perfeito da língua inglesa e, acima de tudo, duas grades de cerveja. Má, daquela que comparamos a urina, mas sempre cerveja.
"Descida" à cidade. Esplanadas. As barbas começam a surgir cada vez mais imponentes em dimensão e corte, trajadas de ganga, cabedal e t-shirts de bandas, de Amorphis a ZZ Top. Duas cervejas depois, embrenhamo-nos no 013. A ansiedade puxa-me os intestinos, como se eu acabasse de pisar uma mina, e não me deixa aperceber da verdadeira dimensão do complexo.
Não há tempo. No palco principal, os próprios Baroness fazem o soundcheck. É fácil arranjar um lugar na frente. A essa hora, os burners preferem empacotar-se nos dois números secundários ou numa banca de comida para galinhas. Melhor comer lá fora, no turco.
Quando termina um concerto e ficamos com a sensação de que foi o melhor que vimos nos últimos anos, é difícil imaginar que isso é só o início. A partir daí, tudo será igual ou melhor. Foi assim com os Baroness. Perfeitos, imponentes, resplandeciam como se fosse ao ar livre. Os Orange Goblin, que nem estão muito na minha playlist, transformam-se no palco e demolem a assistência com fumos e riffs. Até o vocalista parecia bom!
Uma pausa para comer no turco antes de Amon Düül II, que já se poderiam chamar Amon Düül LXVIII. Som mais fraco, sofrendo de 30 anos de avanço da tecnologia e já de alguma artrite, mas recompensando-nos com duas músicas do "Yeti", com o chefão a pegar no violino e a provar a todos os presentes que velhos são os trapos. Não ficando até ao fim, conseguimos ainda enfiar-nos no concerto de Zu, três italianos que mais parecem seis, com saxofone esmurrado, bateria tocada por um polvo, baixo para lá de saturado e samples de latidos de cães que faziam o "Dogs" dos Pink Floyd parecer gravado por um chihuahua asmático. Unanimemente, o melhor concerto da noite, juntamente com Baroness.
Tempo ainda para espiar o Alexander Tucker a falhar o micro e a atrapalhar-se nos loops, mas, ainda assim, um bálsamo para ouvidos e pulmões. De volta à Green Room, os Wolves in the Throne Room preparam-se. Não são mesmo a minha chávena de chá, mas tenho de admitir que pareceram mais crescidinhos ali. Os devotos apertam-se como cogumelos em lata, outros promovem a má onda.
Já não há pernas nem pachorra para Devil's Blood, White Hills, muito menos para a lamechice dos Motorpsycho, apesar dos pratos de choque de 16''. Última cerveja. Ganza ainda não temos. Amanhã há mais.

27/04/2009

Afterburning


Sempre fui ao Roadburn. Comigo levei um bloquinho, onde não tinha grandes esperanças de escrever duas linhas, quanto mais um relato dos 3 dias do festival.
Aqui vai a transcrição do 1º dia, o da viagem, ao qual se seguirá o mais importante - a música - que, sempre que possível, tentarei ilustrar com discos das bandas. A vida é boa, meus amigos.


Roadburn 2009

"O amor cavalga sem saber"

Chegámos à estação central de Bruxelas, conduzidos por um marroquino que subia passeios. São 3 da manhã. Esperamos pelo comboio que nos levará a Tilburg, a terra prometida, ao único festival de música para onde convém levar protector solar. Porque isto vai ser uma fritura de miolos.
E sabe-o bem quem tem de ir, custe o que custar, meta férias ou invente um atestado, mesmo que isso implique ficar apeado num pardieiro qualquer, com fome e sem sono.
Valeu-nos a luz vermelha e redonda que sorriu de uma porta, anunciando "Super Bock". Lá dentro, uma emigrante sobrevivia à testosterona da malta a jogar bilhar. Não sorriu como o letreiro, mas disse que podíamos falar português.
De volta à estação, a base da primeira noite, espojamo-nos pelo chão mais quente do que as cadeiras, discutimos metal e desenhos animados, esperando pela lavagem de amanhã.


10/04/2009

Orlando Owoh - Dr. Ganja's Polytonality Blues



Orlando Owoh and his Young Omimah Band (1974)

1. Logba Logba / Edumare da Mi Lihun / E Se Rere / Prof Oyewole
2. Ewe Wa Wa Lowo Re / Alun Gbere Wa De

O.O. and his Young Kenneries (1981)

3. Easter Special / Baba wa Silekin / Obinrin Asiko Logba
4. Cain Ati Abel / Alhaji T' Oyo Mayan / Omi l' Eman

http://www.mediafire.com/?ziyw22ji2k0
http://www.mediafire.com/?z2mmmynymgm

The Gerogerigegege - Tokyo Anal Dynamite





The Gerogerigegege (ザ・ゲロゲリゲゲゲ) is a music project created in 1985 in Shinjuku, Tokyo by Juntaro Yamanouchi (山ノ内純太郎)
Though they are often categorized with Japanese harsh noise acts such as Merzbow and Masonna, The Gerogerigegege has also released albums of more straightforward rock (Sexual Behaviour in the Human Male), noise (45 RPM Performance), and ambient music (None Friendly, Endless Humiliation), in addition to several seven inch records mixing these styles with found recordings. The group is best known for their 1990 album Tokyo Anal Dynamite. This album consists of 75 songs, which serve as a fusion of the Ramones' punk jams (replete with Juntaro yelling "1 2 3 4!!" over and over) and John Zorn's frantic Naked City project.
The name of the group combines the Japanese words for "vomit" (gero) and "diarrhea" (geri) with what is supposedly the sound of these actions occurring simultaneously (gegege). (It has also been transliterated to mean "barf, diarrhea, ha ha ha," although "gegege" is possibly a humorous reference to GeGeGe no Kitaro, or an onomatopoeic word of disgust or exasperation, making the name open to several differing interpretations.) Their name has been pronounced "gerro-gerry-gay-gay-gay" on record, though pronounced differently on radio programs and such. To describe the group, Yamanouchi has used the term "Japanese Ultra Shit Band".

Fernando, caga no metal confuso, bora fazer uma banda assim

http://www.mediafire.com/?bzsgawfejmx

01/04/2009

hacride - amoeba (2007)

Afinal, os franceses não pararam de exportar fiambre de primeira com a Carla Bruni. Allez, les gars, endireitem essa bóina, apertem os suspensórios e tirem o cacete debaixo do braço. A poção está servida.
Évi métal do bom já não era novidade na lista de produtos frescos do hexágono, mas este disco recambia as merdas americanas que tenho ouvido para o fundo da prateleira.
Para quem achou que o último álbum de Meshuggah (são suecos, mas sigam o raciocínio) era demasiado
os Hacride são completamente
Tempo até para um pequeno namorico com os deuses do flamenco-hop, Ojos de Brujo. Alguns teclados laretas pelo meio e outros electrodomésticos, mas, meus amigos, nada que desvirtue esta descarga de peso e de riffs a tirar o tapete.





À suivre, o novo de Gojira. Se se portarem bem.

Crítica
Bolachinha