28/04/2009

Roadburn - Dia 2

Agora que penso nisso, foi um milagre termos regressado sempre a casa com aqueles suecos, sem arranjar desacatos. Aqui vai a história do segundo dia, em jeito de diálogo, como sugerido pelo amigo Amebix.


"Are you a taxi? I wanna ride you!"
(o sueco mais alto, para um homem que passeava um carrinho de cabides às 3 da manhã)

- Viste os Böhren?
- Passei de raspão. Estava nos Negura Bunget. Era folclore romeno a mais para mim.
- E eu ia adormecendo. Vamos lá é despachar-nos, que o Steve von Till deve estar a começar.

Pausa para respirar. Rumo à Green Room.

- Foda-se, o Steve von Till a enrolar cabos! Nunca pensei ver tal coisa.
- Cala-te, que...
"Hi, I'm Steve von Till, and this is my spaceship."

DJAAAAN

- O que é que achaste?
- Aquela segunda entrada de distorção deu cabo de mim. Até saltei para trás.
- Foi do caralho.
- Ya, é isso que vamos escrever. "Foi do caralho".

- Vou para Mono.
- Vão andando. Não saio daqui sem ver pelo menos meia hora de Atomic Bitchwax.
Já não dá para entrar.
"So come on, my love..."
Não que não dá! Furar até à primeira fila. Nem acredito que o guitarrista dos Core está à minha frente.
"Shitkicker!"
"We did that one already."
Mas não tinham. Não há tempo, ainda quero ver o fim de Mono. Mesmo na hora para as duas últimas (mais de vinte minutos)! Parece que o pós-rock no Japão ainda agora começou. Que lavagem.

- Ainda aguentamos Cathedral?
- 'Bora lá.
- Caralho, já não tenho pachorra pró Lee Dorian.
- Mas está com boa cara.
"This one's from Cosmic Funeral."
O novo Ozzy.
- Esta ganza tem dois terços de tabaco e dois terços de...
- Acho que apanhei o terço que estava a mais.
St. Vitus. O cheiro a erva triplica. Este baterista é uma merda. O guitarrista até podia estar a tocar as pombinhas da catrina, desde que tivesse overdrive e efeitos a fundo. Mas que rock do caralho.

- Vamos a Scott Kelly.
- Ok, ainda posso curtir o princípio, mas à meia noite ninguém me tira de Colour Haze.
- Quam são esses gajos?
- Foda-se!
Mr. Scott Kelly.
"What are you shushing about? I'll do the shushing around here." É bom, mas não é para mim.
Pausa para cigarro. Palco principal mais arejado, a seguir aos horrores sacrificiais de St. Vitus. Muita gente sentada nos degraus. Escolho um lugar com espaço e espero pelo primeiro acorde.
A visibilidade é perfeita, o som espalha-se pelos quatro cantos do 013, que cada vez mais me parece uma nave de igreja futurista. As costas descansam, enquanto desfruto de uma das melhores bandas de sempre. Devia ser proibido juntar três músicos assim tão bons.
O tumulto abranda. Os homens das cordas sentam-se em almofadas e chamam um convidado com cítara. Desço com eles e aproximo-me do palco. Sinto como se a banda crescesse à minha frente, agigantando-se com a calmia das notas. Sim, que paneleirice da minha parte.

Mais um cigarro. É muita fruta.
- O que é que vocês estão aqui a fazer?
- A descansar um bocadinho.
- Foda-se, estão a perder o melhor concerto de sempre.
- RAISHNISHBURGEKROMBELER!
- Isso, caralho, diz aos gajos.
- É Colour Haze?
- 'Bora, que ainda apanhas meia hora.
Lá dentro, nada pára. Ouve esta, é um hino.

1 comentário:

amebix disse...

lindo.Até me vieram as lagrimas aos olhos.